sexta-feira, 29 de julho de 2011

Comentário de Moisés Neto sobre "A morte MÁXIMA de Amy Winehouse" (Jomard Muniz de Brito)

“Mais uma vez de maneira sintética, sem perder a complexidade e o alcance pop filosófico-psico-pedagógico, JMB usa a sua poeticidade
de modo a tratar dos problemas do seu tempo, em nome do desejo e da ação cultural” (Moisés Neto)

(Texto base)
A morte MÁXIMA de Amy Winehouse
Jomard Muniz de Britto, jmb

Eles fingiram morrer aos 27 anos porque
sabiam pela inconstância da alma não
existir nada de novo para apreender.
E jamais acreditaram na Realeza e no 
sonho americano, na idade de ouro das
vanguardas e, portanto, gozavam com
eternos desafios do ex-pe-ri-mental.
Tantas negações, morte máxima pelo SIM:
todas as coisas estão cheias de deuses
polivalentes, malvados e perplexos.
E os garotos(as), EMOS em seus ninhos
sem pergaminhos retornavam territórios
diferentes das encruzilhadas de Hamlet 
aos solitários de Jesus. Ainda sonhando
perspectivas aglutinadoras de signos.
Permutando antropologias e antropofagias.
Além dos precipícios do prazer 
e atavismos familionários .
Aquém dos chistes e enigmas, ou melhor,
das cotidianas tragicomédias.
Nada de novo para desaprender.
Tudo pelo êxtase da luta corporal
desacreditando potências do sol ao luar.
Amy nunca foi Alice no exílio dos 
desvairados. Mas sua voz dilacerava
alegrias do amor juvenil por quem deveria
ser mais forte. Nada e tudo de sempre
nas tatuagens do vivencial em perigo.
Morrer aos 27 anos em estrelações
tentando escapar das dualidades:
Inconsciente/supereu; barbárie/civilização;
acasos/necessidades; beleza/simulacros.
Quando Arthur Carvalho admirou a voz
onipresente de Amy Winehouse, imaginamos
que algo do melhor poderia acontecer.
Apesar das mortes súbitas, do desamparo
fundamental e da agonia consumista. 
Garota irada, Amy transfigurou nossas
loucuras sublimando o terror grotesco.
Recife, julho de 2011

quinta-feira, 7 de julho de 2011

A REPRESENTAÇÃO DO BRASIL NA ESCRITA DE JOMARD MUNIZ DE BRITTO

Moisés Monteiro de Melo Neto


RESUMO: Propomos fazer um recorte na obra de Jomard Muniz de Britto (recifense, ensaísta, pensador da cultura, autor de textos poéticos, professor universitário, pesquisador, filósofo) abordando, principalmente, a elaboração dos escritos poéticos contidos nos seus livros: “Escrevivendo” , “Inventário de um Feudalismo Cultural”, “Terceira Aquarela do Brasil” e “Bordel Brasilírico Bordel” . Buscaremos relações entre a literatura e a formação social. Como esta poeticidade agencia as diferenciações da cultura nacional e seus vieses em intensa conversação – em espelhos e perspectivas- entre múltiplas crenças, interesses ideológicos, políticos, sociais, sexuais, estéticos.

Consideramos para hacer un truncamiento en la ejecución de Jomard Muniz de Britto (recifense, ensaísta, pensador de la cultura, autor de textos poéticos, profesor, filósofo) siendo acercado, principalmente, la elaboración de las escrituras poéticas contenidas en sus libros: “Escrevivendo”, “inventario de un Feudalismo cultural”, “tercer Watercolor del Brasil” y “burdel del burdel de Brasilírico”. Buscaremos relaciones entre la literatura y la formación social. Como esta agencia del poeticidade las diferenciaciones de la cultura nacional y de sus vieses en la conversación intensa - en los espejos y las perspectivas entre la creencia múltiple, intereses ideológicos, políticos, social, sexual, estéticos.

We propose to make a cutout in Jomard Muniz de Britto (, essayist, thinker of culture, author of poetic texts, University Professor, researcher, philosopher) addressing, in particular, the preparation of written poetic contained in their books: "Escrevivendo", "inventory of a Cultural" feudalism, "third watercolor of Brazil" and "brothel" BRASILírico brothel. A relationship between literature and social training. As this poeticidade put together differentiations national culture and its vieses in intense conversation – mirrors and perspectives-between multiple ideological beliefs, interests, political, social, sexual, aesthetic.

PALAVRAS-CHAVE: Gênero, , etnicidade, identidade, alteridade, ideologia.

KEYWORDS: Gender, ethnicity, identity, otherness, ideology.

PALABRAS CLAVES: Sexualidad, pertenencia étnica, identidad, alteridade, ideología.


Jomard Muniz de Britto: recifense, ensaísta, pensador da cultura, autor de textos poéticos, professor, pesquisador, filósofo. Trata-se de um intelectual que vem traduzindo suas intervenções por meio do objeto estético, da construção simbólica: reflexão poética e sociocultural. Os textos contidos nos seus livros: Escrevivendo (1973), Inventário de um feudalismo cultural, com ilustrações do artista plástico Sérgio Lemos (1979), terceira aquarela do brasil (1982), Bordel BRASILírico Bordel (1992),  Arrecife de Desejo (1994), Outros Orf´eus (1995) (estes dois últimos com ilustrações de João Denys Araújo Leite) e Atentados poéticos (2002) tratam com particular poeticidade as relações entre  as etnias. Os  processos de produção desta obra literária agenciam   diferenciações da cultura nacional e seus vieses em intensa conversação. Por não admitir a hegemonia do cadinho freyriano, JMB trata as relações interétnicas através de uma linguagem espelhos e perspectivas onde vão se reconstruindo/ desconstruindo interesses ideológicos, “culturais”, políticos, sociais, sexuais, estéticos.
Ele traz, na sua antilira, para usar o termo no sentido que Luiz Costa Lima lhe atribui, reflexões estético-políticas em forma de síntese, registradas entre o som e o sentido, a lutar, festejar, com a palavra (indomável?), num poliédrico fruir poético-existencial. Rompe com o esquema do poema fechado em nome do processo questionador, instala, dentre outras coisas, a suspeita da linguagem. 
Colocando em interface o ser e sua existência histórico-social essa poeticidade leva a questão da etnia até o abissal reflexo de outros discursos, lugares, personagens, desejos, mistérios, em polifonia. As reflexões sobre os processos de produção cultural, sobre o ensino-aprendizagem, ou ainda a problematização dos gêneros, poder, sexualidade, entrelaçam-se ao tema-problema “etnicidade”  num trabalho de expansão da significação da palavra (às vezes até a opacidade), utilizando-se de intertextualidade, neologismos, trocadilhos, inexatidão, imprecisão, chiste na busca de uma consciência possível. É poética como política de reflexão, a dialogar com fatores culturais e políticos de forma lúdica.
JMB calca seu discurso no estranhamento, transforma signo em denúncia e teatralidade. Estabelece um jogo dialético onde a memória da formação social se compondo, decompondo, recompondo, atualiza-se através da linguagem artística (evitando o esquematismo e a redundância).
São versos permeados de um inacabamento perdurante, marcados por uma atitude de vanguarda permanente, contra definições programáticas, que sugerem um fazer coletivo, anti-discurso e criatividade compartilhada com o leitor, rompendo as fronteiras entre o poético e a crítica da cultura. Afasta-se da história oficial para criar algo novo, intempestivo. Entre paradoxos e identidades faz surgir uma produção de sentidos menos opressora, voz poética em um terreno mais amplo que o convencional. A obra de JMB atinge um nível de intelecção e de conceituação bastante problemáticos. Entre o sensível e o inteligível, desconstrução e reconstrução de lugares comuns e em exercício de fruição e gozo, ele escrevive a crítica cultural através de uma  poiesis cheia de contradi(C)ções.
Como compreendê-lo? Talvez indicando coincidências, divergências, discrepâncias. Portanto a discussão acerca da obra de Jomard parece-nos essencial quando se pensa em  estabelecer relações entre literatura, memória e sociedade no Brasil. O seu tom épico-satírico tem uma sonoridade contemporânea e seu poema-hipertexto é também resposta a uma certa crise finissecular/ milenar, revelando também a articulação das palavras nas variantes e interpenetrações do poder ao saber no início de século XXI.
Vemos nesta poética a idéia de experiência afetiva dos sujeitos concretos em sua inserção no mundo (dimensão existencial), transcodificação de uma experiência vivida. No interior desses textos, encontramos suas tensões, fios discursivos, desenhos, jogo complexo e instável, mutação de sentidos, jogos pedagógico-filosóficos, metáforas e questionamentos.
Uma rede que se estende entre este sujeito que projeta a enunciação (o dito, que prenuncia o não-dito, e o interditado) e os que a recebem, abrangendo presente, passado e expectativa de futuro. JMB flagra situações-limite cheias de ambigüidades. Seu texto dialoga com essas tensões. Ele usa a bricolagem na sua crítica cultural (a crítica da cultura) e esmiúça as mensagens político-ideológicas através de um peculiar jogo de interpenetrações, fricção por detrás das palavras/ construções sintáticas, estendendo o abismo entre sentidos denotativo e conotativo. Poiesis democrática e dialética: poesia moderna? Satírica? Filosófica? Claro enigma? Pouca gente se arrisca a classificar JMB. O Real, o Imaginário e o Simbólico em sua obra são particularíssima experiência na difusão de formas poéticas em todos os níveis: do grande épico-satírico à busca de uma sonoridade, ao citado poema hipertexto cheio de links parodístico-histórico-filosóficos.
JMB representa em poeticidade a relação dos homens com o seu destino, com a vida, discute temas/ problemas fundamentais da sociedade. Propõe a religação entre o homem e o seu universo, entre os homens e o local da cultura (perdido), entre os homens e sua comunidade. Expõe o desamparo dos sujeitos modernos.
O corpo desta poesia surge na esteira de transformações sociais e subjetivas, como expressão, no campo da arte, da reflexão como meio de acesso à verdade. Suas relações solitárias de sujeito com a verdade tentam responder através da dúvida sistemática, como os filósofos empiristas.
Mapear a obra poética jomardiana é enlaçar-se com as contradições e coincidências entre a história literária oficialesca e a construção simbólica de indivíduos particulares vivendo experiências particulares em épocas e lugares particulares. É querer decifrar/ compreender a falta de certezas universais e/ ou transcendentais numa poética que coloca o indivíduo como centro de suas próprias referências. Uma poeticidade impregnada de revoluções em enigmas contundentes.
Nos seus textos os marginalizados aparecem em linguagem sincopada como reis, santos ou heróis, e além de pessoas comuns, se destacam da massa ganhando uma história de vida digna de ser relatada - a identificação do leitor funciona para simultaneamente: 1) legitimar a experiência e 2) autorizar a diferença, legitimando a experiência. Ele autoriza a diferença: busca a adesão dos seus leitores/ouvintes que por um motivo ou por outro não se ajustam perfeitamente nem à velha ordem decadente nem à nova política.
Jogando entre os pólos, em contraposição às conveniências e aparências que regem o jogo social, unindo detalhes (sabendo que os detalhes da vida só adquirem existência quando encontram palavras que expressem em determinação literária: anseios, desejos, sofrimentos e gozos), sua literatura é campo de referências que se dirige ao sujeito/leitor. Evitando o lugar-comum dos discursos de autoridade, essa literatura faz-se campo de experiência compartilhada de forte interpenetração imaginária, ao mesmo tempo em que interpela diretamente o indivíduo em seu isolamento. É ruptura, apóstrofe, apelo aos sujeitos mergulhados no vazio, na ausência de sentido, na ameaça de aniquilamento e de diluição das identidades. Escridura que está atenta ao seu próprio destino e escolhas morais. Simultaneamente mais emancipada, encontra-se relativamente mais livre para o escreviver.
Convocado a dar conta de sua própria experiência subjetiva, produzida no encontro tenso entre "vivências de diversidade e de ruptura" e outras tendências, JMB articula o seu caminho por entre as frágeis malhas da rede de informações que lhe chegam através de outros textos (atentados poéticos!). Se não há nesta lira uma garantia de verdade, há pelo menos a busca de interlocutores no meio da incerteza.
Desta rede de interlocuções vêm as vozes de Jomard: da relação com o semelhante, com o pequeno outro na sua condição de desamparo e de dúvida. Ele também escreve para interrogar a falência dos enunciados de verdade. São textos em que a dispersão e a fragmentação do eu encontram alguma unidade. Questionam a dificuldade de se estabelecer qualquer certeza sobre o sentido da vida e do mundo.
Cabe a esta poética nomear nosso precário saber, afinal o que podemos saber sobre as coisas é apenas aquilo que propomos a respeito delas sabendo que a significação de uma palavra é seu uso na linguagem contra a tirania do Um.
Eis o texto jomardiano: sem ocupar um lugar de autoridade e buscando a interlocução; poesia lúdica buscando a legitimação simbólica sem a pretensão a fundar uma exceção perversa.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Reconhecê-las

Maria Luiza Souza

Se os cristais soubessem o quanto são preciosos...
Quando olhos humanos percebem e invejam.
Todos almejam seu brilho e sua preciosidade.
É tão bom ser e não saber,
fazer e não sentir.

Conheço pessoas/cristais
Que não sabem o valor que tem
E são tão lindas por isso
São tão incríveis.

As vezes eu me pergunto
Se sou digna o bastante
Para conviver com elas
Não sei, talvez eu seja.
Talvez eu esteja aqui pelo simples fato
De reconhecê-las.